O FUTURO É JÁ PASSADO

O presente momento, que acabei de viver, é agora passado. Está passado. O presente é um consumir do futuro e um eternizar do passado. O tempo é o devir, ou seja, o movimento incessante do espaço. Desde os primórdios que o homem procurou controlar o devir: controlando os movimentos e transporte dos seres; ou estabilizando e armazenando esses mesmos seres.

A tecnologia dos sentidos
Para conseguir o controlo sobre a estabilidade e mutabilidade dos seres, procurou o homem investigar o ambiente envolvente. Iniciou pelos elementos que o colocam em contacto com o exterior, os sentidos. Os sentidos são cinco: visão, audição, olfacto, tacto e gosto ou paladar. Sem os sentidos o homem não consegue receber estímulos externos. Os sentidos podem ser decompostos nos seus constituintes; por exemplo o gosto pode ser decomposto, entre outros, para o salgado, acido, amargo ou doce; já o tacto pode ser para calor, frio, dor etc.

Inicio e desenvolvimento da tecnologia dos sentidos
No inicio, o homem procurou explorar a realidade envolvente directamente através dos seus sentidos; entretanto foi progressivamente usando objectos que, ampliando os estímulos externos ou a capacidade de captura pelos sentidos, conseguia uma maior profundidade de compreensão e controlo da realidade externa. O microscópio, o telescópio, os altifalantes, os perfumes etc. são exemplos de objectos que o homem usou e usa para ampliar a captação do estimulo exterior através, sempre dos mesmos cinco sentidos. Procurou também controlar a estabilidade e mutabilidade destes estímulos captados pelos sentidos, quer através dos gravadores de sons e imagens, quer posteriormente pelo transporte e emissão, á distância, desses mesmos sons e imagens. O homem capta sons e imagens, locais ou á distância, que armazena e transporta para outras localidades, onde vai escutar e ver, pelo uso de dois sentidos: visão e audição.
Com o intuito de explorar a realidade exterior o homem tem desenvolvido a tecnologia dos sentidos. A tecnologia dos sentidos, como modo de explorar a realidade exterior, está muito desenvolvida.

A tecnologia do entendimento

Inicio e desenvolvimento da tecnologia do entendimento
No entanto, o homem não é apenas sentidos; tem também uma parte incorpórea, uma forma ou estrutura constituída pela sua razão, o seu intelecto, a sua compreensão, o seu entendimento. A razão humana tem limites. Há conhecimentos e entendimentos que ultrapassam ou transcendem a razão humana. Isto é, por mais que a humanidade use da sua racionalidade, do seu entendimento ou dos seus conhecimentos para compreender certos fenómenos, surge sempre uma limitação incapacitante. De facto, o homem pensa por conceitos; os conceitos são abstracções que representam a realidade; os conceitos podem também ser abstracções que representam outros conceitos abstractos. Os conceitos interligam-se ou relacionam-se por raciocínios que, por sua vez, ao se relacionarem, no seu todo constituem a razão. Há vários tipos de raciocínios: dogmáticos, relativistas, dialécticos, silogísticos, indutivos, dedutivos, sequenciais, paradoxais, analógicos, etc. A razão produz um tipo de conhecimento, o conhecimento racional. Além do racional, há outros tipos de conhecimento: intuitivo, sensitivo, empírico, racional-cientifico, etc. Os vários tipos de conhecimento, assim como as estruturas capazes de o produzir, constituem a parte incorpórea da humanidade que efectivamente, tem sido pouco explorada e desenvolvida. O homem dedicou-se á tecnologia dos sentidos em detrimento do entendimento. O desenvolvimento do entendimento acelerou com a escrita, na qual que se procuram prender e transportar conceitos, ideias, pensamentos e raciocínios em papel que posteriormente serão recebidos no mesmo ou outros locais do espaço. O actual suporte digital melhora a capacidade de armazenamento e transporte, mas não as estruturas humanas capazes de conhecer e entender.
Estamos no inicio da revolução do entendimento, numa fase arcaica em que se trabalha a inteligência artificial. A actual inteligência artificial apenas vai desenvolver os mesmos raciocínios e formas de entendimento já usados pelo homem.
Na segunda fase desta revolução do entendimento vão aparecer novos tipos de raciocínios e formas de compreensão e conhecimento que actualmente transcendem a capacidade da humanidade. Muito provavelmente os sistemas de hardware e software informáticos em conjugação com a robótica e outras tecnologias subsidiárias serão muito importantes nesta fase. As tecnologias de informação, que actualmente apenas utilizam os sentidos da visão e audição vão-se progressivamente expandir a outras tecnologias e envolver os restantes sentidos (olfacto, tacto, paladar) e converter toda a representação da realidade externa ao sistema binário (zero-um; verdadeiro-falso; aberto-fechado; etc.). A inteligência artificial em conjunto com o envolvimento informático, apoiado no sistema binário, de todos os sentidos, constituirá nesta segunda fase da revolução do entendimento, uma autêntica realidade virtual. Para o final desta segunda fase, a humanidade terá já transcendido todo o seu actual nível de compreensão e entendimento.
Surgirão certezas para actuais interrogações filosóficas, a ponderar cuidadosamente: Qual a minha origem primária? Qual a origem da vida? Qual a origem do ser-enquanto-ser? Qual será o meu fim? Qual será o fim do universo? Qual o fim da totalidade do ser-enquanto-ser? Onde estou no espaço? Onde se localiza o universo? Onde se localiza o ser-enquanto-ser? Porquê o ser e não o nada? Porque vim ao mundo? ... e não pedi para vir? Quem sou? Quem me deu esta identidade? ... e a identidade da minha identidade? etc., etc., etc. A segunda fase da revolução do entendimento humano ainda não será capaz de resolver o armazenamento e a translocação da consciência.

Na terceira fase desta revolução, e muitas outras se seguirão, vai surgir algo de maravilhoso: a capacidade de armazenar, conservar e transportar o ego, assim como a própria identidade dos sujeitos. As pessoas vão ser confrontadas consigo próprias. A consciência será armazenada, transportada e posteriormente auto-apreendida. Nessa altura qualquer pessoa poderá “ estar na janela a ver-se passear na rua” ou seja ter consciência da própria consciência.

A conservação identitária da consciência trará a imortalidade. Iniciará, de uma forma rude, por uma imortalidade apenas identitária em que o sujeito se auto reconhece, mas pode reconhecer como seu (“self”) o que realmente o não é; posteriormente vão surgindo a conservação, transporte e armazenamento de outros factores do entendimento humano. A vontade e autodeterminação, a intencionalidade da consciência e da vontade, a força conativa e volitiva das decisões, etc. serão armazenados e transportados de tal ordem que a imortalidade será plena.

A tecnologia do entendimento humano, trará a imortalidade!

O dualismo, aqui expresso, sob as formas de passado e futuro, estabilidade e mudança, tempo e espaço, armazenamento e transporte, sentido e entendimento, verdadeiro e falso, mortalidade e imortalidade, etc. demonstra bem a sua importância na previsibilidade e análise futurológica.

A previsão do futuro, a curto, médio e longo prazo, constitui um dos principais factores da vitória.