Bioisótopos e consciência

Elementos químicos, ou átomos, que têm o mesmo número de protões e de electrões mas diferente número de neutrões designam-se por isótopos. As propriedades químicas dos isótopos não variam já que estas apenas dependem do número atómico, que é igual para todos os isótopos do mesmo elemento químico; no entanto as massas dos isótopos são diferentes e, por conseguinte, as respectivas densidades, pelo que propriedades físicas como os pontos de fusão ou ebulição são também diferentes. Há forças que se estabelecem entre as moléculas de uma substância que determinam não só os estados sólido, líquido e gasoso dessa matéria mas também outros aspectos como a solubilidade e até as estruturas conformacionais estereoisoméricas; essas forças intermoleculares como a força de Van der Waals, as forças entre dípolos dos quais um, ou ambos, pode ser induzido ou permanente, e as designadas pontes de hidrogénio, relacionam-se com os isótopos através das diferentes densidades que, em determinado elemento químico, estes apresentam, mas também permitem a coesão e manutenção da estrutura entre diferentes substâncias.
Os isótopos que entram na constituição da matéria viva são aqui designados bioisótopos e, apesar da sua grande abundância, as ciências da vida não se têm dedicado muito a esta área da investigação científica; no entanto, há certos métodos relacionados com a análise química orgânica como a espectrometria de massa mais a cromatografia, sobretudo gasosa, que têm sido amplamente desenvolvidos no sentido da análise de misturas orgânicas complexas com aplicações na ecologia, biologia e indústria agro-alimentar, mas também na geologia, meteorologia e clima, assim como várias outras. Compreende-se que os isótopos, estáveis e sem qualquer decaimento radioactivo, só por entrarem na constituição dos seres vivos já têm implicações nas suas propriedades físicas e respectivas reacções bioquímicas. Os elementos carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto, presentes em toda a matéria viva, têm vários isótopos estáveis cujas percentagens dependem do ambiente; a manutenção das percentagens assim como o turnover destes elementos e de vários outros, nos organismos vivos, tem implicações fisiológicas e funcionais que a ciência ainda desconhece.
Acreditando na teoria evolucionista da selecção natural, não se sabe o contributo das diferentes percentagens de isótopos ambientais para a adaptabilidade e flexibilidade dos diferentes seres vivos em luta pela vida, num ambiente em permanente mutação. Não se sabe o contributo da composição e percentagem, no organismo humano, de isótopos para a diferença inter-individual entre os seres humanos assim como o contributo para o binómio saúde – doença. Aceita-se que a consciência seja frequentemente definida como uma capacidade, ou faculdade, que a pessoa tem de se reconhecer a si própria e aos estímulos provenientes do meio envolvente. Aceita-se que em termos neuroanatómicos a responsabilidade pelo estado acordado, vigilante ou da consciência, se localiza no sistema activador reticular ascendente e são vários os neurotransmissores envolvidos entre os quais se destaca a acetilcolina; também é concebível que o neuroelectromagnetismo das forças intermoleculares determinante da estereoisomeria conformacional molecular dinâmica da acetilcolina, responsável por mecanismos cognitivos, possa estar associado com a consciência mas não se sabe qual é o contributo dos isótopos constituintes das moléculas neurotransmissoras e das suas moléculas receptoras, para o funcionamento da consciência e dos respectivos processos cognitivos.
O desenvolvimento geral e da medicina em particular, caminham conjuntamente com a nanotecnologia para uma compreensão cada vez mais molecular e inframolecular dos fenómenos e ocorrências científicas; a medicina molecular, apesar de ser uma disciplina científica recente tem, na medicina isotópica, uma vasta área de investigação para explorar. A medicina isotópica do futuro permitirá compreender, entre tantos outros, fenómenos cognitivos como a memória, o pensamento e restantes mecanismos da consciência.
Doutor Patrício Leite, 11 de Fevereiro de 2018