Gerir eficazmente a vida pessoal e
familiar é uma tarefa difícil. Muitas pessoas acreditam que gerir uma grande
empresa, um país ou um império é mais difícil do que gerir a vida pessoal;
parece um paradoxo mas, na realidade, custa muito mais gerir a vida pessoal e
familiar de uma pessoa do que um país ou um grande império. Os grandes líderes
mundiais só precisam de saber escolher os conselheiros adequados e distribuir
cargos políticos, enquanto a gestão pessoal e familiar implica uma sabedoria
alargada sobre todos os aspectos da gestão.
Na vida quotidiana, qualquer pessoa
precisa de saber organizar recursos (humanos, materiais e monetários) para
atingir objectivos próprios. A gestão pessoal é tanto mais eficaz quanto
maiores forem os resultados conseguidos e menores os recursos consumidos na
consecução desses objectivos. Em qualquer empreendimento humano, pessoal ou
organizacional, as funções a desempenhar são sempre iguais. A direcção assume a
tomada de decisões como conversão de recursos para atingir objectivos. Uma
direcção diz-se eficaz se, conhecendo os recursos ao seu dispor, adopta
objectivos adequados e alcançáveis; uma direcção diz-se eficiente se,
conhecendo os objectivos previamente determinados, minimiza os recursos
necessários para os atingir. A eficácia e a eficiência caminham conjuntamente e
determinam a excelência da direcção. A função comercial é extraordinariamente
importante nas sociedades contemporâneas; como ninguém vive isolado, qualquer
pessoa para sobreviver precisa de vender. As pessoas podem vender serviços ou
produtos, podem simplesmente vender a força do seu próprio trabalho ou até
ideias e conselhos morais, à família ou aos amigos, como um serviço, mas têm sempre
de vender algo para sobreviver. O marketing, a publicidade e a propaganda assim
como, especificamente, a força de vendas são fundamentais. Sondar o mercado e procurar
os clientes alvo, divulgar e distribuir aquilo que se oferece ao mercado por
todos os canais à disposição, criar uma imagem positiva e desejável dos produtos
ou serviços oferecidos e finalmente celebrar contractos de venda, são
fundamentais para a sobrevivência e crescimento. A função comercial pode ser
implementada pela própria pessoa interessada, com a colaboração de familiares e
amigos mas também por todas as outras pessoas que se encontrem à disposição. A
função comercial depende directamente da produção; sem produção não há consumo
e sem excesso de produção não há vendas, não há comércio. A função produtiva é
aquela que mais permite implementar mecanismos de contenção de custos, eficácia
de trabalho humano e ganhos de produtividade. O rácio ou razão entre o valor
dos produtos ou serviços produzidos, como numerador e como denominador o valor
dos recursos consumidos nessa produção, é a produtividade. Há ganhos de
produtividade quando; com iguais recursos consumidos, se aumenta o valor dos
produtos ou serviços produzidos ou então, para um dado valor de produtos ou
serviços produzidos, se diminui os recursos consumidos nessa produção. Quando
da actividade produtiva resultam produtos, torna-se necessário armazenar a matéria-prima
e os stocks de produtos a comercializar por outro lado, os serviços são
simultaneamente produzidos e consumidos pelo que, nesta situação, apenas se
torna necessário um stock de recursos necessários à sua produção. Uma pessoa,
ainda que a viver isoladamente, precisa de um stock de vestuário, alimentação
assim como de um local para dormir; stocks mínimos, como estes, fazem parte da
gestão da produção.
Numa família há várias pessoas cujas
necessidades e comportamentos implicarão numa atenção sustentada para produzir
e comercializar serviços ou produtos. Os recursos humanos são apenas uma classe
de recursos entre os vários restantes porém, como nada se produz, nada se
consome e nada se comercializa sem pessoas, os recursos humanos assumem relevo
e importância. Uma pessoa, ainda que isoladamente, precisa de si própria para
trabalhar e sobreviver. Conhecer o ser humano e o seu comportamento é
importante na gestão de recursos humanos assim como nos estudos do trabalho e
naquilo que o pode melhorar.
A gestão financeira e o domínio dos
recursos monetários não necessitam de grande conhecimento técnico. Conceitos
como EBITA (earnings before interest, taxes, and amortization), VAL (valor
actual liquido) e TIR (taxa interna de retorno) apenas são necessários para os
gestores de grandes empresas que pretendem adoptar uma política de dívida com o
objectivo camuflado de conduzir essas empresas à ruína e à insolvência. Muitos
grandes empresários, bem sucedidos, guiam-se apenas intuitivamente pelo payback
ou retorno do capital com base nos cash flows históricos, actuais e
previsionais. Compreender que as receitas têm de superar as despesas para que o
lucro seja positivo, é fundamental; considerar o activo e o passivo, o crédito
e o débito assim como as estruturas de custos fixos e variáveis no planeamento
de uma actividade económica simples e lucrativa é muito importante. Fazer
balanços e balancetes assim como um registo sistemático das contas ajuda a
prever e melhorar a rentabilidade. A gestão pessoal e familiar enquanto
investimento, de dinheiro e recursos materiais, tempo, trabalho, esforço e
preocupações, tem dois indicadores muito importantes: a rentabilidade (e rácios
correlatos) ajuda a compreender a estrutura e actividade económica assim como o
crescimento e expansão desse investimento; a solvabilidade (e rácios
correlatos) ajuda a compreender a estrutura financeira assim como a sobrevivência
futura desse investimento pessoal ou familiar. Consegue-se melhorar a
rentabilidade aumentando a margem de lucro sobre as vendas, elevando os preços
ou então reduzindo os custos, mas também através de sinergias melhorando a
proporção entre os diferentes produtos ou serviços produzidos e
comercializados. Reduzir o investimento mas aumentar o volume de vendas é também
um modo de aumentar a rentabilidade pela rotação do capital. Se é muito
importante crescer e ganhar dinheiro mais ainda é manter-se solvente e não cair
na ruína. Para sobreviver é preciso fazer previsões sobre os fluxos de caixa
futuros, controlar os devedores mas também obrigar os credores a respeitar os
acordos para os prazos e condições de pagamento, controlar as existências e
activo circulante nunca se permitindo um endividamento excessivo e também não
investir demasiado em activo fixo para ter liquidez e honrar os compromissos
nos prazos estabelecidos. Se apesar de tudo, a pessoa ou a família já se
encontrar numa situação de insolvência iminente pois algumas estratégias de sobrevivência
a curto prazo e restabelecimento passam por reduzir o volume de devedores
fazendo com que estes paguem o que devem, solicitar aos credores que esperem
mais algum tempo para a cobrança das dívidas e reduzir as existências como os
stocks e outros, logo de seguida terão de ser reduzidos os custos; a sobrevivência
a longo prazo implica num planeamento estratégico tendo conhecimento das necessidades
do mercado e das oportunidades que este oferece mas também da inovação ao nível
dos produtos e serviços comercializados e da competitividade actual e futura
actualizando as competências e talentos pessoais no sentido de acompanhar a
evolução. As estratégias de diversificação, quando o mercado está em
crescimento, e de concentração quando o mercado se contrai, podem ser úteis mas
a sobrevivência a longo prazo implica sempre uma certa capacidade de previsão
sobre o futuro.
Doutor Patrício Leite, 24 de Julho de 2017