Vivemos num mundo cada vez
mais informatizado; utilizamos as tecnologias mas não sabemos como elas
funcionam. Na realidade, todo o sistema electrónico, incluindo os computadores,
funciona a partir de quatro componentes básicos: resistências, condensadores,
díodos e transístores. O fenómeno físico elementar é a corrente eléctrica,
enquanto movimento ordenado dos electrões; a resistência opõe-se à passagem da
corrente eléctrica, o condensador acumula e descarrega carga eléctrica, díodos
e transístores são formados a partir de elementos químicos semicondutores, dos
quais o mais utilizado é o silício, sendo que o díodo apenas permite que a
corrente passe num só sentido e o transístor permite ampliar ou reduzir a
tensão de saída. Há vários materiais resistentes utilizados, em conformidade
com a resistência que se quer utilizar que será medida em Ohm; também a
capacitância de um condensador se mede em Faraday e primitivamente existiam
condensadores constituídos por duas placas separadas por mica, ar ou papel mas
actualmente há novos condensadores inclusivamente os electroquímicos; os
condensadores dizem-se fixos ou variáveis conforme se pode, ou não, regular intencionalmente
a capacitância desejada. Os díodos e transístores são formados a partir dos
semicondutores como o silício, germânio e outros e, por terem polaridade
eléctrica, com ânodo e cátodo, permitem que a corrente eléctrica flua apenas
num sentido; no entanto os transístores são constituídos por um emissor, uma
base e um colector pelo que introduzindo corrente na base se pode ampliar, ou
reduzir, a tensão de saída; os transístores dizem-se PNP se o emissor é
positivo a base é negativa e o colector positivo, os outros dizem-se NPN. Com
dois transístores e quatro resistências constrói-se um circuito sequencial com
duas estabilidades, designado flip-flop; cada uma destas estabilidades é designada
por zero (0) ou um (1) e, por isso, o flip-flop funciona como um bit de
memória, semelhante à memória RAM, que a unidade de processamento central (CPU)
usa para efectuar as operações computadorizadas. Para funcionar, o computador
precisa de vários periféricos que lhe permitem o input e output entre os quais
o disco rígido que armazena os dados por mecanismos e fenómenos magnéticos e
electromagnéticos. Com o desenvolvimento dos circuitos integrados foi possível
acoplar milhões de flips-flops que tornaram os processadores mais potentes.
Actualmente, por padronização, um byte é constituído por 8 bits o que permite a
utilização do código ASCII de 256 caracteres com inclusão de todas as letras do
alfabeto, todos os números e sinais de pontuação assim como muitos outros. A
partir destes 256 caracteres do código ASCII realiza-se input de programadores
e utilizadores dos computadores; este input passa pelos circuitos sequenciais
flip-flop sendo processado e depois enviado para os periféricos de output que
incluem os dispositivos de armazenamento em disco rígido assim como a gravação em
CDs e outros instrumentos de armazenamento de dados que posteriormente poderão
funcionar como input para os CPU. Estas estruturas permitem o desenvolvimento
lógico de software entre o qual se incluem os problemas de segurança
informática testada e estudada pelos tradicionais hackers; no entanto há a
possibilidade de um hacking escondido que os poderosos não têm interesse em
divulgar: o hacking de hardware.
Há uma informação original,
antigamente designada por memória ROM, que é proveniente de fábrica e apenas
pode ser lida, não pode ser modificada; essa informação é inerente ao próprio
hardware e vem acoplada a todos os processadores. Na realidade, apesar da
especialização empresarial na produção de componentes de hardware, o que se tem
verificado mundialmente é uma espécie de cartelização na produção dos CPU pelo
que estas empresas, ou algum dos seus directores de produção, podem colocar nos
processadores um tipo de código designado por firmware, constituinte da memória
ROM, que apenas possa ser lido e por motivos de espionagem, enviar informações
contidas nesse computador para locais previamente determinados, isto é o
designado hacking de hardware que as poderosas empresas de produção de hardware
não gostariam de ver revelado; este hacking é muito difícil de ser descoberto
já que os circuitos electrónicos a ele atribuídos têm fusíveis que, por
descarga eléctrica excessiva, podem fundir ou queimar e interromper ou desviar
a corrente eléctrica para outros circuitos manipulando assim a informação e tornando
os circuitos de hardware espião praticamente indetectáveis. Este
tipo de actividade intrusiva pode inclusivamente tornar o CPU ou todo o
computador inoperável pelo que a guerra do futuro, designadamente a ciberguerra
ou guerra cibernética será realizada com base neste tipo de hacking de
hardware, na realidade, cada vez mais, a sociedade depende das estruturas
informáticas que controlam os aspectos vitais da regulação e da vida em
sociedade pelo que controlar o hardware das estruturas de suporte é controlar a
sociedade e quem o conseguir tem, e terá, o poder político sobre a sociedade.
Doutor Patrício Leite, 16 de Abril
de 2017