Pensar a realidade é
reflectir numa série de fenómenos e ocorrências que impressionam
os nossos órgãos dos sentidos. Não num pensamento imediato ou num
empirismo prático, mas sim numa reflexão por vezes paradoxal e
aparentemente antagónica aos conhecimentos do senso comum. É assim
que surge a ideia de um espaço ou distância entre objectos com
características heterogéneas ou anisotrópicas; o espaço ou
distância tem um carácter reológico, uma elasticidade ou
deformabilidade que implicam numa métrica diferente consoante a
região do espaço. É também assim que se pode afirmar, com lógica
de verdade, que um carro, um móvel ou qualquer objecto em movimento
não possuem essa característica, não estão em movimento, nem têm
sequer essa possibilidade intrínseca; o que se move é o espaço ou
distância envolvente que se expande ou contrai em harmonia e daí a
sensação de que é o móvel que se desloca. A sensação é produzida
pelos órgãos dos sentidos; é a impressão destes órgãos que, em
última instância, permite captar a realidade externa: os órgãos
dos sentidos são os últimos mediadores entre a realidade externa e
o entendimento humano.
O ser humano desenvolveu
instrumentos técnicos que permitem transformar algumas alterações
da realidade externa de modo a que os órgãos dos sentidos as possam
captar. Há faixas do espectro electromagnético, assim como do
sonoro e outros, que apenas são captáveis pelos órgãos dos
sentidos após uma transformação, operada por instrumentos técnicos
que o ser humano produziu. Caminhando neste sentido, e alargando o
âmbito desta reflexão a uma generalização filosófica abrangente,
envolvendo a realidade total, pode-se afirmar que platonicamente o
ser humano capta a sombra e não o ser, capta imagens e não
objectos. No entanto, algumas das imagens captadas sofreram primeiro
uma transformação operada pela realidade e depois uma transformação
operada pela técnica, ou seja, pelos instrumentos de captação
humana.
É neste sentido que têm
evoluído o pensamento e a aquisição dos conhecimentos científicos.
Quando Einstein e Kelvin colocaram limites à velocidade e à
temperatura absoluta, mais não estavam a fazer do que a limitar as
possibilidades de apreensão da realidade externa. Portanto, como num
ecrã de cinema, as imagens podem aumentar ou diminuir, mas nunca
ultrapassar os limites do próprio ecrã; também os valores
absolutos colocados por estes dois cientistas, para a velocidade e
para a temperatura, limitam a variabilidade e a inerente apreensão
da realidade externa.
Quando Einstein admite
quatro dimensões variáveis espácio-temporais e uma quinta
constante absoluta que foi a velocidade da luz no vazio, em termos de
modelagem matemática, poderia ter optado por qualquer variável como
um valor constante absoluto, por exemplo: o tempo, a largura, a
altura ou a profundidade; e a partir daqui já poderiam variar as
restantes, incluindo a velocidade, sem alteração da reologia ou
deformabilidade total do espaço. Nesta lógica de pensamento, quando
ao longe, se vê uma casa, uma montanha ou uma pessoa pequenina, essa
pessoa, essas entidades, para a entidade que as capta, para o
observador são, em realidade, mesmo pequeninas e aumentam de tamanho
conforme se aproximam da entidade que as capta. Isto nada tem de
estranho, é uma questão da reologia do espaço, da deformabilidade
e elasticidade do espaço, e porque com a variação da distância ou
espaço, todo o contexto, todas as variáveis restantes sofrem as
equivalentes alterações multidimensionais, então apesar de as
propriedades físicas e químicas se alterarem com a variação da
distância, essas alterações físicas e químicas não são notadas
pelo observador.
Na actual física de
partículas, mas também ao nível macroscópico, tem-se admitido
três tipos de movimentos básicos ou fundamentais, a saber:
translação, rotação e vibração. Classificar o movimento nestes
três tipos distintos pode ter utilidade prática para a física
atómica, quântica e macroscópica mas, em realidade, surgem
contradições insanáveis que cumpre esclarecer. Desde logo, o
movimento de vibração nada mais é que um movimento de translação
confinado a uma área restrita do espaço. Depois o movimento de
rotação não tem realidade física, surge apenas como um ideal, um
paradoxo ou contradição entre a realidade e o raciocínio humano.
Ou seja, imaginemos o planeta Terra com o movimento de translação
em volta do sol e de rotação sobre si própria. Assim como o sol
seria o centro para o movimento de translação da Terra, também o
centro da Terra seria o centro para um movimento de translação de
uma cidade, localizada na sua superfície, enquanto a Terra roda
sobre si própria. Com este raciocínio, enquanto a Terra roda,
qualquer área ou volume considerado entre o centro da Terra e a sua
superfície, teria sempre movimento de translação. Caminhando para
o centro da Terra, cada vez mais para um nível microscópico, em
última instância apenas o ponto mais central da Terra teria
movimento de rotação. Mas um ponto é apenas uma abstracção
matemática, não tem realidade física portanto, o movimento de
rotação também não tem realidade física é apenas um produto do
raciocínio humano. Se não existe movimento de vibração e de
rotação e se no universo apenas existe movimento de translação,
então não se compreende porque uma pessoa, todos os dias, vai
trabalhar e regressa a casa, com as rodas do carro a rodar sobre si
próprias? O que ocorre, na realidade, é que a reologia do espaço
assume uma deformabilidade em vórtice ou vórtex que, dependendo da
posição do observador pode, num mesmo movimento, apresentar-se como
translação, rotação ou vibração. Assim, todo o movimento é um
pequeno vórtice ou vórtex que integra vários outros vórtices por
sua vez englobados em dois supremos e gigantescos vórtices envolvendo todo
o movimento do universo.
Doutor
Patrício Leite, 26 de Dezembro de 2014