O dualismo, enquanto doutrina
ou teoria filosófica, focaliza a abordagem da realidade existencial em duas
partes fundamentais indissociáveis e irredutíveis. A actual realidade
tecnológica, designadamente da informação e comunicação, expõe toda a sua
teoria, toda a sua ciência, com base num dualismo conceptual inequívoco. A
revolução digital, em curso, é o triunfo do dualismo tecnológico; diz-se que em
determinados circuitos electrónicos de um computador existe, ou não, corrente
eléctrica; a existência, ou ausência, de corrente eléctrica fundamenta dois
valores lógicos que são actualmente a base fundamental de toda a engenharia de
software. Generalizando pode-se afirmar que, para o entendimento humano, qualquer
redução diferencial até atingir dois valores fundamentais, absolutos,
irredutíveis e irreconciliáveis, é sempre capaz de fundamentar sistemas
informáticos, qualquer que seja a sua natureza: electrónica, óptica, quântica,
biológica, cósmica ou qualquer outra.
A dualidade conceptual avança;
diz-se que num sistema informático, num computador, há portas ou portos, que
servem para inputs e outputs; também em sistemas informáticos de computação
distribuída se pensa em termos de um modelo segundo o qual os servidores
informáticos comunicam com os clientes através de redes de computadores. É
precisamente para os sistemas informáticos distribuídos, com redes de
computadores, que se torna necessária uma nova paradigmática; o actual modelo
OSI (Open Systems Interconnection), com implantação predominante a partir do
último quartel do século XX, tem dificultado a conceptualização dos sistemas de
cibersegurança mas também da inteligência artificial distribuida; dividir
arbitrariamente a rede informática em sete camadas hierárquicas e firmar, para
cada camada, protocolos de comunicação de dados, envolvendo as empresas de
hardware, pode permitir a interconexão e comunicação entre máquinas e hardwares
de diferentes fabricantes mas não facilita, nem permite, o desenvolvimento
conceptual de sistemas de segurança informática.
Compreende-se que a
comunicação de dados entre computadores exija, no limite, uma contiguidade do
espaço físico, constituído por diferentes meios de transmissão, que torne
possível o fluxo bilateral de bits, ou valores binários, em estado bruto; daí
alguns dos protocolos estabelecidos com empresas de hardware; também se
compreende que existam ferramentas protocoladas capazes de efectuar a ligação
de dados e eventualmente corrigir erros ocorridos a nível físico; claro que
diferentes sequências de dados, ou seja bits estruturados, têm de ser ordenadamente
encaminhados entre diferentes redes até conseguirem finalmente chegar ao seu
destino; se até aqui o nível de comunicação, entre computadores, se
centralizava na estrutura física é pois, agora, necessária uma camada,
designada camada de transporte, com nível hierárquico quatro, que faça a
ligação entre o hardware e o software de modo a controlar o fluxo e ordenação
dos pacotes corrigindo erros das sequências, fraccionando ou juntando segmentos
de modo a tornar funcional o encaminhamento e a troca de dados entre diferentes
computadores que na camada seguinte, camada de sessão, vai funcionar por
protocolos que permitem a comunicação entre diferentes aplicações de vários
computadores, mas os dados têm de ser convertidos ou traduzidos numa sintaxe de
criptografia, ou não, capazes de ser apresentados à camada de aplicação que
finalmente faz a interface com o utilizador humano.
Outros modelos, como o TCP/IP,
podem ser integrados no modelo OSI, porém parece que, apesar de estarmos a
lidar com a comunicação entre computadores, nenhum dos modelos existentes
contempla os elementos da comunicação como fundamento teórico da abordagem
conceptual; na realidade a terminologia servidor/cliente deveria desde logo ser
substituída por emissor/receptor já que até quando o utilizador humano pretende
ir a um site usando um browser, o que ocorre é uma troca de informações entre
dois computadores a partir da camada de aplicação pelo protocolo HTTP; também os
muitos e variados protocolos que se estabeleceram mais não são do que códigos
de entendimento entre os computadores envolvidos, depois, o que estes modelos
demonstram é que há uma necessidade imperiosa de manter o contacto, ou canal,
da comunicação mas perdem em segurança informática e no desenvolvimento da
inteligência artificial distribuída e desenvolvida pela cooperação entre
diferentes computadores em rede. Um modelo comunicacional assente na
paradigmática dos elementos da comunicação: emissor, receptor, mensagem,
código, contexto e canal; portanto um modelo assente em seis camadas
imprescindíveis e sem qualquer hierarquia, em relação intrínseca com as funções
da linguagem: emotiva - emissor, apelativa - receptor, poética – mensagem,
metalinguística – código, denotativa – contexto, fáctica – canal; seria
inequivocamente um modelo capaz de melhorar não apenas a cibersegurança da
comunicação informática mas também a inteligência artificial distribuída pela
rede. No domínio da cibersegurança compreende-se que a conceptualização
estratégica racional de qualquer ataque informático, tem por fundamento teórico
do planeamento estratégico o paradigma do modelo comunicacional. Quando um
hacker programa um vírus está centralizado no computador receptor e por isso desenvolve
o respectivo código mas também desempenha comunicação apelativa, por exemplo
através de Email com engenharia social, porém é com base no paradigma do modelo
comunicacional que ele efectua um planeamento estratégico que confere utilidade
global, de ataque informático. Por exemplo, os vírus de ransomware estão
completamente centrados no computador receptor, já os keyloggers centram-se no
receptor mas também procuram passwords para outros ataques subsequentes, por
outro lado quando o hacker usa botnets procura criar uma rede distribuída de
computadores zumbis a fim de mais tarde efectuar ataques distribuídos de
negação de serviço (Denial of Service), ou outros, portanto centralizando
primeiro a sua comunicação informática no computador receptor para posteriormente
se centralizar num canal de comunicação que vai tentar interromper; também os
backdoors e os trojans procuram controlar a comunicação através das portas dos
computadores mas o controlo do canal de comunicação é tão importante que se
programam e desenvolvem ferramentas de software malicioso para invadir através
do Wifi, ondas de radiofrequência, telefones sem fios etc.
Pode-se afirmar de um modo
geral que, em termos estratégicos, os ataques informáticos mais básicos são do
tipo man-in-the-middle que no modelo comunicacional envolve os elementos
mensagem, código, contexto e contacto; habitualmente os elementos mais visados
são, no modelo OSI das sete camadas, o canal e o código com os seus vários
protocolos de rede; já as mensagens podem ser, ou não, protegidas por
encriptação que serão posteriormente desencriptadas se o computador espião for
muito potente.
O modelo OSI desconsidera
exageradamente a abordagem do contexto comunicacional e respectiva função
denotativa da linguagem, pelo que no presente, este elemento da comunicação tem
campo aberto para técnicas de hacking e invasão informática.
Por motivos de inteligência
artificial distribuída através da rede e segurança informática, é necessária e
imperativa a implementação de um novo modelo de comunicação entre computadores
em rede; é necessário um modelo com seis camadas, não hierarquizadas, designado
modelo comunicacional; destas seis camadas do modelo comunicacional uma,
completamente nova e nunca contemplada até agora, nunca contemplada por nenhum
dos modelos anteriores, será referente ao contexto comunicacional; por
comparação, a abordagem biológica da replicação, transcrição e tradução do
material genético do ADN (Ácido Desoxirribonucleico) até à formação de
proteínas, segue um modelo comunicacional que contempla todos os seis elementos
da comunicação, portanto incluindo o contexto, é pois este modelo, o modelo
comunicacional, que deve também ser contemplado e implementado nas redes
informáticas, incluindo a internet.
Ao nível lógico a implementação
da camada contextual, do modelo comunicacional, nada mais é do que sequências
de zeros e uns, capazes de informar o computador receptor sobre o contexto em
que o conteúdo da respectiva mensagem se desenvolve; com a actual largura de
banda que os canais permitem, a camada contextual nem sequer congestionará
significativamente o tráfego, no entanto, o ganho em segurança informática e
inteligência artificial distribuída por diferentes computadores, em rede, será
sobejamente compensador.
Doutor Patrício Leite, 4 de Abril de 2018