Emoções

O corpo humano tem um sistema de receptores capaz de receber estímulos, que organiza em informação cognitiva, provenientes do meio interno e do meio externo. Em termos das estruturas cognitivas responsáveis pelo processamento dos estímulos e organização da informação distingue-se tradicionalmente a sensação, como sendo a captação de estímulos e respectiva excitação inicial, da percepção como implicando já um certo reconhecimento, uma tomada de consciência da natureza do estímulo. Enquanto a sensação se localiza apenas ao nível da estimulação dos receptores sensoriais; já a percepção implica uma certa centralização da informação com intervenção de mecanismos cognitivos mais complexos como sejam, entre outros, a atenção, a memória e a vontade.
No domínio do conhecimento mental fala-se frequentemente de emoções, afectos, sentimentos e humor como algo completamente distinto dos mecanismos cognitivos; no entanto recentemente tem sido efectuado um esforço para juntar ambos os aparelhos num funcionamento integrado. Apesar de as terminologias respeitantes à vida sentimental se mostrarem vulgarmente confusas e pouco esclarecedoras, parece razoável aceitar os afectos como sendo emoções associadas a ideias e os sentimentos como sendo emoções associadas a comportamentos motores; as variáveis implicadas, os conceitos e respectivas designações são muito diversificados, por exemplo, o humor é um termo ou palavra que tanto se pode referir a uma tonalidade afectiva como sentimental relativamente estável e duradoura no tempo.
Nas situações afectivas e sentimentais, há sempre uma certa percepção, uma certa compreensão cognitiva consciente de que existe emoção envolvida numa relação com determinada ideia ou comportamento; a pessoa sabe o que sente e consegue-o relacionar com objectos externos e comportamentos ou então com ideias internas; os sentimentos e afectos envolvem as estruturas cognitivas evoluídas, próprias da percepção, dos raciocínios e da interpretação abstracta; já a emoção fica aquém da percepção e restantes estruturas cognitivas, a emoção localiza-se entre a sensação e a percepção; frequentemente a pessoa emocionada desconhece a sua emoção, o seu estado emocional, e quando sabe deduz esse conhecimento meramente através de meios e mecanismos indirectos como o batimento cardíaco ou o rubor facial, entre vários outros; a pessoa emocionada não percepciona, apenas sente, por vezes quase que toma algum conhecimento de uma certa polaridade positiva ou negativa, mas sabe apenas que se sente bem ou mal, porém desconhece tudo o restante relativo às suas emoções, por isso se afirma que a emoção se localiza em termos cognitivos entre a simples sensação e a percepção.
A bioquímica da contracção muscular ao descobrir a responsabilidade de polímeros macromoléculares proteicos de substâncias como a actina e a miosina, entre outras, permitiu as bases moleculares de todo o comportamento motor; o pensamento e restante comportamento cognitivo parecem existir, nos seus fundamentos físicos e químicos mais elementares, nas alterações estereoisoméricas conformacionais dinâmicas de moléculas neurotransmissoras, respectivos receptores e enzimas envolvidas no seu metabolismo; as emoções parecem ser, na sua essência, reacções bioquímicas de determinadas moléculas cuja duração no tempo depende da actividade biocatalítica das respectivas enzimas envolvidas. O modelo aqui proposto permite explicar a rapidez das ideias no fluxo do pensamento, já que se trata de um mero fenómeno físico consistindo apenas em alterações estereoisoméricas de conformações moleculares; as emoções instalam-se de modo mais lento pois consistem em reacções bioquímicas cuja cinética depende também da saturação enzimática; os movimentos motores são ainda mais demorados, na sua execução, pois realizam-se à custa de alterações macromoléculares com envolvimento de reacções físicas e químicas.
Noções como os afectos, que envolvem ideias e emoções, fazem pensar em alterações estereoisoméricas de conformações moleculares em íntima associação com reacções bioquímicas, dai a sua volatilidade; por exemplo, uma pessoa com síndrome depressivo que chora ao relatar um acontecimento triste, quando se lhe propõe que pense e fale concretamente de algo sabidamente mais alegre, imediatamente começa por esboçar um sorriso, podendo até chegar a rir abertamente; por outro lado os sentimentos, que se associam a emoções com comportamentos motores, são mais complexos em termos físicos e químicos, aos níveis micro e macromoléculares, e portanto mais difíceis de estabelecer mas também mais duradouros; os sentimentos podem eventualmente envolver as macromoléculas proteicas da contracção muscular em íntima associação com reacções químicas dos neurotransmissores existentes na placa motora da junção neuromuscular. O modelo explicativo aqui exposto permite descrever os fundamentos teóricos, ao nível físico e químico, não apenas das emoções mas também dos pensamentos e acções numa relação interactiva integrada de todo o comportamento humano.
Doutor Patrício Leite, 23 de Fevereiro de 2018