Há na história do pensamento humano, uma corrente
que admite a metodologia dialéctica como fundamento do progresso evolutivo;
segundo a dialéctica da acção e do conhecimento, na fase antitética torna-se
impossível descobrir se o início ou partida se faz da acção concreta para o
conhecimento abstracto ou se ocorre o inverso, sabe-se no entanto que ambas
caminham interligadas e sofrem mútua influência recíproca.
Observar o desenvolvimento cognitivo das crianças
permite descrever o modo como estas adquirem a linguagem e o pensamento. A
criança começa por observar atentamente o ambiente familiar em que se insere;
por imitação, com tentativa e erro, começa aos poucos a emitir pequenos sons
guturais, continua a balbuciar pelo que se vai sucessivamente definindo um som
conhecido; para alegria dos pais, surge a primeira palavra. Continua a
imitação, continua a aprendizagem, surgem mais palavras, surgem os conceitos e
ideias abstractas associadas às palavras vocalizadas. Observando
pormenorizadamente a evolução do desenvolvimento cognitivo infantil,
verifica-se que primeiro começam a definir-se respostas ou reacções de
familiaridade para estímulos e sensações correspondentes aos rostos e figuras
conhecidas, a criança aprende a percepcionar e memoriza os objectos da sua
percepção, depois imitando, emite sons guturais perante a proximidade dessas
figuras conhecidas, seguidamente balbuciando aperfeiçoa-se e consegue vocalizar
a palavra correspondente, finalmente aprende e vocaliza mais palavras. Estas
observações conduzem à ideia de que, no desenvolvimento do ser humano, primeiro
surgem os comportamentos voluntários externamente observáveis, posteriormente
são-lhes associadas ideias ou conceitos abstractos, finalmente surge o pensamento
como fluxo de ideias.
A ciência tem demonstrado que todos os movimentos,
actos, acções ou comportamentos humanos são realizados através da contracção ou
relaxamento da musculatura, lisa ou estriada; por outro lado os comportamentos
ou acções voluntárias, portanto dependentes da vontade e, por conseguinte, do
pensamento, são realizados pela musculatura estriada (com excepção do musculo
estriado cardíaco); também na dinâmica do sistema nervoso somático, dependente
da vontade consciente e do pensamento, mais precisamente na placa ou junção
neuromuscular, o neurotransmissor encontrado é a acetilcolina.
Quimicamente a acetilcolina é um ester resultante de
uma reacção de esterificação entre o ácido acético ou etanóico e o grupo
hidroxilo da colina, esta última é também designada por (2-hidroxietil)trimetilamónio;
ao nível do organismo a biossíntese da acetilcolina inicia-se a partir da
fosfatidilcolina que origina a colina, por outro lado, a colina junta-se com um
grupo acetilo proveniente da acetilcoenzima A; a respectiva reacção de síntese
é catalisada pela enzima colina-acetiltransferase, já a reacção de degradação é
catalisada por outra enzima, a acetilcolinesterase.
Tem-se verificado que os inibidores da
acetilcolinesterase podem ser altamente letais pelo que, sobretudo os
organofosforados, são utilizados na guerra química e conhecidos como agentes de
nervos, no entanto, alguns inibidores da acetilcolinesterase, como a
rivastigmina ou o donepezil, podem ser medicamentos usados no tratamento dos
sintomas cognitivos da demência como a doença de Alzeimer.
A observação da aquisição da linguagem e do
pensamento, ao longo do desenvolvimento infantil, associada com o conhecimento
neurohistoquímico da transmissão colinérgica, dependente da vontade e do
pensamento, desde a placa ou junção neuromuscular até ao sistema nervoso
central, conjugada com os medicamentos inibidores da acetilcolinesterase, que
melhoram os sintomas cognitivos da doença de Alzeimer, conduzem à ideia de que os
estímulos externos alteram os receptores sensoriais dos órgãos dos sentidos
que, por sua vez, vão alterar os receptores colinérgicos do sistema nervoso
somático; a alteração dos receptores colinérgicos, que surge em função dos
estímulos externos, é transmitida para a acetilcolina que muda a sua estrutura
estereoisomérica conformacional dinâmica molecular; a alteração conformacional,
da acetilcolina, provoca mudanças conformacionais estereoisoméricas em
receptores colinérgicos ao longo do sistema nervoso central; a interacção
dialéctica recíproca entre as estruturas conformacionais estereoisoméricas
dinâmicas dos receptores, somáticos e do sistema nervoso central, da acetilcolina
com a respectiva molécula, é responsável pelo pensamento, memória e restantes
mecanismos cognitivos.
As moléculas interagem através de forças que têm
natureza eléctrica e magnética; nos seres vivos, as forças intermoleculares são
frequentemente responsáveis pelas estruturas estereoisoméricas conformacionais
das respectivas moléculas; no organismo humano há imensos neurotransmissores e
respectivos receptores que em conjunto são responsáveis pelos aspectos
cognitivos e cujas estruturas conformacionais resultam da interacção molecular
recíproca através de forças eléctricas e magnéticas; as estruturas conformacionais
moleculares correspondem às ideias e a sua alteração dinâmica corresponde ao
fluxo das ideias, isto é, ao pensamento; a química electromagnética do
pensamento associada às alterações conformacionais estereoisoméricas
moleculares torna possível a existência de muitos milhões de ideias cujo fluxo
permanente não altera significativamente o organismo humano.
Tem-se verificado que cada pessoa, ao longo da sua
evolução, aprende a linguagem a partir do uso da musculatura estriada da
fonação; posteriormente vai-se desenvolvendo o pensamento como uma forma
“silenciosa” de contracção dos músculos voluntários da fonação; o conhecimento
dos neurotransmissores e respectivos receptores da junção neuromuscular em
conjugação com a teoria das estruturas estereoisoméricas conformacionais
moleculares permite agora dar consistência e coerência lógica à influência da química
electromagnética intermolecular como mecanismo fundamental do pensamento humano,
da memória e restantes estruturas cognitivas.
Doutor Patrício Leite, 5 de
Fevereiro de 2018