Atenção receptiva

A atenção é uma propriedade cognitiva que consiste na selecção focalizada de estímulos com abstracção do restante meio externo. A recepção é um estado de aceitação do meio externo. O hipnotismo é um estado de atenção focalizada e receptiva e quanto maior for a concentração receptiva da atenção maior será a progressão da hipnose até um nível de transe com sensação de sonho concentrado nas sugestões do hipnotizador.
Antes das técnicas que induzem o transe são necessárias sugestões prévias que se baseiam na confiança entre os intervenientes. A confiança é uma fiança, é uma fé, é uma fé que depende das experiências passadas; confiamos no futuro, mas confiamos no futuro com base nas experiências passadas. Só se vive no presente, nunca ninguém viveu no futuro, no entanto a fé, a confiança que nele depositamos depende sempre das experiências vividas no passado, é por isso que os hipnotizadores procuram, antes de iniciar qualquer sessão hipnótica, adquirir do sujeito, uma confiança na sua técnica com base em experiências práticas, prévias, inicialmente com predomínio do aspecto ou carácter físico das experiências e só depois progridem para o mundo dos conceitos e das ideias.
Sendo a confiança um sentimento ou emoção positiva determinada pela capacidade de prever o comportamento da outra pessoa, necessariamente a fama, as informações ou o conhecimento histórico sobre o outro criam, na pessoa, um grau de confiança que ajuda a condicionar a sua receptividade mas a confiança, apesar de útil, não é um factor fundamental ao exercício da influência pessoal. As duas variáveis independentes que conduzem à influência pessoal são: a receptividade e a atenção.
A receptividade é um estado de aceitação de estímulos, sensações, ideias ou sugestões que são apresentados a partir do meio externo, é uma aceitação, uma integração passiva, uma resignação que leva a pessoa a receber o que lhe é dado ou apresentado sem o colocar em dúvida, sem o questionar, sem o pretender alterar. A pessoa que não aceita passivamente defende-se ou resiste; a pessoa resiste porque está vigilante, vigia conscientemente as sugestões ou ideias que lhe querem impor pelo que grande parte das técnicas de influência pessoal consiste em diminuir essa vigilância, em diminuir essa resistência, em diminuir essas defesas, em conduzir a pessoa a uma aceitação passiva das sugestões que lhe são apresentadas. A repetição da sugestão, a repetição sucessiva e incansável da mesma ideia, de três ou quatro formas variadas, mas sempre a repetir a mesma ideia, é das técnicas mais eficazes para ultrapassar resistências, em algum momento a pessoa pode ter a sua vigilância diminuída e então a sugestão entra, depois de entrar produz o efeito desejado, mais tarde ou mais cedo vai produzir o efeito pretendido. Há influenciadores que dedicam grande parte do seu tempo a estudar e analisar o modo como as pessoas se defendem e resistem; estudam, analisam e destroem as defesas do ego, as defesas da consciência, as defesas da consciência vigilante, para depois de destruir essas defesas e resistências conduzir a pessoa a uma aceitação passiva do que lhe é sugerido, do que lhe é incutido; mas a receptividade, a recepção passiva daquilo que é sugerido não é tudo, para manter a influência é preciso que a pessoa mantenha a atenção focalizada nas sugestões que lhe são transmitidas, de outro modo a pessoa distrai-se e torna-se receptiva a ideias e sugestões provenientes de outras fontes do meio ambiente, provenientes de outras pessoas, de outros influenciadores.
A técnica de manter a atenção focalizada é utilizada pelos hipnotizadores, é por isso que mantêm o olhar fixo na raiz do nariz, entre os olhos da pessoa, e usam uma voz lenta, monótona e imperativa, com toques e pressões suaves em certas zonas do corpo e passes e gestos lentos e enfáticos que imprimem convicção às palavras; mas como a etimologia da palavra “atenção” transmite, há sempre uma tensão, uma tendência a alterar o estado de atenção, uma tendência a alongar-se, a esticar-se, a estender-se para outros assuntos, para outras ideias, para outros estímulos, é por isso que para manter a atenção, os influenciadores fazem sempre apelo ao relaxamento, a que a pessoa esteja relaxada, distendida e descontraída pois de outro modo estaria sobre tensão. É compreensível que sendo a atenção, precisamente a manutenção de uma determinada postura, de uma determinada tensão, então é pelo relaxamento, pela descontracção, que essa postura permanece e por isso os influenciadores procuram manter sempre a pessoa descontraída e relaxada pois só assim esta pessoa se pode entregar a uma focalização receptiva e permanente da sua atenção.
A pessoa que mantém a vigilância de estímulos, ideias e sugestões provenientes do meio ambiente em que está inserida, e que por isso resiste a sugestões, é uma pessoa consciente, é uma pessoa que intencionalmente mantém o propósito de exercer a sua vontade. A vontade é o culminar de todas as forças mentais e a sua intencionalidade, a sua intenção, é uma tensão que se pode opor à vontade de quem a quer influenciar, é por isso que os hipnotizadores, nas suas explicações prévias às sessões de hipnotismo procuram anular o antagonismo, procuram que a pessoa não resista, não se oponha, não exerça a sua vontade. Se conseguirem a adesão da pessoa, se conseguirem anular, ou pelo menos minimizar a tensão resultante da sua vontade, se conseguirem a sua entrega, pois têm aproximadamente metade da garantia de uma boa sessão hipnótica.
As forças que, independentemente da vontade do hipnotizador, geram tensão numa pessoa, são opostas ao hipnotismo, as que a diminuem são propensas. Alguns medicamentos que relaxam o organismo e retiram a ansiedade favorecem a hipnose mas aspectos tão simples da vida como sessões de cinema, teatro ou de humor também diminuem a tensão e tornam a pessoa propensa à influência, é por isso que os profissionais da manipulação mental contratam artistas para colocar o público em relaxamento, em descontracção, com a atenção focalizada e receptiva e assim o levar à aceitação de ideias que de outro modo seriam impossíveis.
Alguns influenciadores clássicos utilizavam instrumentos como esferas hipnóticas, pêndulos ou espelhos giratórios para mais facilmente induzirem o transe ou a simples influência pessoal; actualmente os jornais, rádios e televisões tornaram-se dos mais poderosos instrumentos de influência pessoal e manipulação colectiva de massas a que ninguém consegue resistir.
É mais fácil influenciar outras pessoas do que resistir a toda e qualquer influência. Não há quem consiga resistir à influência pessoal: nascemos para influenciar e ser influenciados!
      Doutor Patrício Leite, 31 de Julho de 2016