Cancro essa doença primordial

A investigação do cancro tem revelado uma atitude clássica vocacionada para as alterações patológicas; que se traduz desde o inicio, na teoria monoclonal para a carcinogénese por agentes externos e policlonal na carcinogénese com carácter hereditário. Na realidade a investigação clínica necessita de continuar com o estudo da patologia, no entanto, a investigação cientifica deverá centrar-se mais no estudo do organismo e não das alterações patológicas. De facto, cientificamente, o cancro não é a doença; doente é o organismo que o originou. Muito antes de se estabelecer o cancro, já o organismo tem as condições e prepara o terreno para que esse cancro se desenvolva. Em todas as pessoas e a todo o momento se estão a desenvolver células cancerosas, no entanto, só em algumas, essas células progridem até ao cancro. Se as mutações oncogénicas conduzem a perda da apoptose e a uma proliferação celular descontrolada; o certo é que os genes-proteínas reparadoras (p53 e outras) permitem que essas mutações cancerosas se exprimam e isto porque primitivamente a regulação dessas proteínas reparadoras já as tinha enfraquecido. Há assim desde o inicio uma permissividade, ou seja, um desejo que o organismo tem em desenvolver um cancro. Num doente canceroso, com excepção da sua consciência, do seu ego, todo o seu organismo quer, deseja e promove as condições para que o cancro se desenvolva. O organismo doente, não só permite que a mutação oncogénica se exprima como as restantes células abandonam o normal controlo celular pelo contacto de próximidade e permitem que as células cancerosas se desenvolvam descontroladamente. As células cancerosas, de origem blástica, com atipia mitótica e grande anaplasia, ciclos celulares curtos e intensa actividade proliferativa; não desenvolvem, elas próprias, mutações que conduzam à sua própria autodestruição, porque o organismo doente não quer já que, as deseja e as suporta. Esse desejo que alguns organismos têm em desenvolver um cancro é tão grande que o sistema major de histocompatibilidade aceita as células cancerosas como pertencentes ao próprio, o sistema imunitário não as combate, e o organismo desenvolve tecido conjuntivo e fibroblastos assim como vasos sanguíneos capazes de suportar e alimentar uma arquitectura estrutural cancerosa. Não é apenas o carcinoma in situ ou o sarcoma localizado que vê facilitada a sua passagem pela membrana basal ou invasão dos tecidos adjacentes mas também, na disseminação metastática, há uma angiogenese tumural que parece préviamente preparada pelos factores de crescimento vascular para que o cancro se venha a desenvolver à distância. Assim, estes e outros fenómenos observados , levam à conclusão que não é o cancro que causa doença no organismo mas é o organismo doente que causa o cancro. A investigação cientifica não se deve centralizar nas alterações cancerosas mas sim nas condições prévias do organismo que conduziram e promoveram essas alterações cancerosas. Esta dualidade mobiliza para a indissociabilidade do binómio organismo-cancro. Doutor Patrício Leite, 30 de Maio de 2013