Uma das perguntas fundamentais
é: - Quem sou eu?
A resposta não é simples;
envolve um complexo conjunto de noções conceptuais, sensitivas, motoras e
instintivas que levam os seres vivos a comparar e distinguir o próprio do
alheio, o interior do exterior. Os animais gregários distinguem os seres da
mesma espécie dos elementos de outras espécies e, quando vivem em grupo,
conseguem ainda distinguir a identidade grupal. O ser humano apercebe-se
daquilo que o distingue dos outros seres vivos mas também se identifica e reconhece
a distinção entre povos e culturas, entre países ou nações, entre os vários
grupos constituintes da sociedade em que está inserido. A identidade é
importante para a vida em comunidade mas também para a sobrevivência
individual. A formação da identidade pessoal, da auto-identidade, começa muito
cedo no desenvolvimento da criança; no entanto há em cada pessoa um
esquecimento do início e do princípio da sua identidade. Cada um sabe que no
passado era muito diferente do presente, mas mantém a integridade da sua
identidade; apesar da mudança, sabe quem é, não sabe como começou, sabe que
mudou, mas sabe também que é a mesma pessoa; uma pessoa diferente mas sempre a
mesma pessoa. A identificação, na formação da identidade, pode servir como um
mecanismo de defesa do ego, da consciência; admite-se que, nesta situação, a
identificação com o agressor dá esperança à consciência de se vir a tornar tão
forte como o agressor, é por isso uma defesa do ego. A identificação é algo
fundamental; sem identificação não existe o indivíduo mas a identificação
precisa de um nome para se manifestar. A identidade da identificação é o nome,
este prolonga-se no tempo mas o ser identificado que se auto-identifica tem
realidade finita. A investigação científica no domínio da apoptose tem evoluído
muito, a morte celular programada pode vir a ser erradicada nos próximos anos mas
a conservação indefinida e prolongada da identidade, fora de um corpo humano,
fora de um órgão ou tecido humano, e posterior inoculação num outro organismo
vivo ou não, num outro ser humano, animal ou máquina; essa transmissão da
identidade, ainda terá um longo percurso a percorrer. A verdadeira imortalidade
jamais será possível sem a extracção, conservação e transmissão da identidade.
Doutor Patrício Leite, 19 de Julho
de 2016