Compreender
o comportamento humano, como objecto de estudo, conduz necessariamente à sua
estrutura, finalidade e funcionalidade, enquanto integrado numa mais vasta área
da conduta face às contingências, contrariedades e adversidades ambientais, que
a vida humana tem de enfrentar para sua sobrevivência.
Tradicionalmente,
o comportamento tem sido empiricamente encarado como motivado por objectivos a
atingir no futuro e causas ou motivações localizadas no passado que ao gerarem
necessidades ou carências, mais ou menos conscientes, impõem uma imperiosa
energética motivacional. É também pela visão tradicional que se descrevem
variáveis como estímulo e resposta, punição e recompensa, antecedentes e
consequentes, reforço positivo e negativo ou tantas outras que implicam sempre
numa dualidade do ser vivo que é agido e age numa permanente interacção com o
meio ambiente; de certo modo, este meio ambiente é assim personalizado com
características de ser humano ou pessoa; por exemplo, entender que o meio
selecciona as respostas por intermédio de punição ou recompensa é atribuir
características humanas a esse meio ambiente; o comportamentalismo tradicional
privilegia esta abordagem baseada num empirismo pseudo-científico cujas
observações, hipóteses e experiencias necessitam, para sua consolidação e
coerência, de grande esforço mental e trabalho de racionalização numa tentativa
de arranjar razão para ter razão.
O
neodualismo vai mais longe, avança mais profundamente na compreensão dos
princípios que governam e determinam o comportamento humano; é por este método,
neocomportamentalista e dualista do pensamento, que se avança para uma
perspectiva sistémica segundo a qual qualquer entidade ou integra o sistema
considerado ou não lhe pertence, assim, considerando a vida como um sistema
fechado e isolado, portanto sem trocas de matéria nem energia, chega-se à
conclusão que os seres vivos não são vida mas apenas seres ou entidades que são
organizados pela vida. Na realidade, a observação de qualquer ser vivo mostra
que todo o seu movimento, todo o seu movimento comportamental, tem como
princípio servir a permanência da vida; este princípio de utilização do
comportamento como simples modo de manutenção da vida estende-se aos seres
humanos portanto, a vida não é um mero ser vivo, a vida é uma parte, uma
entidade para nós abstracta presente em todos os seres vivos, que para se
servir os organiza, mas deles se distingue; essa parte abstracta, a vida, é uma
parte organizativa e expansiva que tem como finalidade a sua permanência; por
conseguinte o fim da vida é, paradoxalmente, permanecer; é este princípio vital
de permanência que determina todo o comportamento dos seres vivos,
inclusivamente o humano. É desta imanência vital que emanam os comportamentos
humanos, de manutenção da vida, de reprodução e defesa da prole mas também, por
vezes, defesa incondicional da vida de outros seres vivos, sempre ao serviço da
permanência da vida que não se confunde com um simples ser vivo. Compreender o
ser humano é saber que o seu comportamento não é condicionado por punições e
recompensas, estímulos e respostas, mas sim predeterminado pela permanência da
vida em interacção com as contingências do meio ambiente que não são punidoras
nem reforçadoras mas tão-somente estão, ou não, organizadas ao serviço da
permanência da vida e, quando não estão, o comportamento faz-se no sentido de
assim as organizar. As noções do dualismo tradicional como estímulo e resposta
ou punição e recompensa perdem agora sentido, perdem agora significado para a
permanência da vida como o grande princípio determinante da conduta, do
comportamento humano.
Doutor Patrício Leite, 26 de Janeiro de 2018