Valores Fundamentais no Conflito do Mundo

Existem dois valores fundamentais que predominam no mundo actual: um é o valor da continuidade da vida, o valor da vida; o outro é o valor do bem-estar, o valor de estar-bem.
Face aos dois valores fundamentais é manifesto, no Mundo, um conflito fundamental entre os defensores de cada um destes valores.
Tradicionalmente, e ao longo da história da humanidade, o valor da vida assumia claro predomínio sobre o valor de estar-bem. O prazer e a alegria, o conforto e a saúde estavam claramente subordinados ao valor da vida. As pessoas para procriar, obtinham prazer nas relações sexuais e para sua segurança na velhice e na doença procuravam ter muitos filhos; esta era a continuidade cíclica vital, tanto nos seres humanos como nos animais e plantas, esta era a luta pela vida, a luta em prol da vida, a luta em defesa da continuidade da vida no mundo.
O século xx foi o século da morte. Foi o século em que o ser humano mais matou outros seres humanos. Foi neste século que as guerras mundiais dizimaram milhões de pessoas mas, ainda pior, deu-se inicio à criação, divulgação e aceitação de um outro valor, tido por fundamental, que coloca o bem-estar acima de todos os outros.
O valor da vida, que detinha clara primazia, foi perdendo vantagem para o valor do bem-estar. Na sequência da segunda guerra mundial com a criação da organização das nações unidas e posteriormente da organização mundial de saúde, o valor do bem-estar atingiu um elevadíssimo patamar, nunca antes alcançado ao longo de toda a história da humanidade. A organização mundial de saúde definiu politicamente o conceito de saúde como um completo bem-estar; nem sequer pensou na continuidade da vida, pensou apenas no bem-estar; e depois no auge do crescimento do valor bem-estar, a organização mundial de saúde adoptou como metas a saúde para todos no ano 2000. Estava-se plenamente na sociedade do bem-estar: o sexo era usado apenas para o prazer, a pílula era distribuída gratuitamente nos centros de saúde, a pílula do dia seguinte nem sequer necessitava de prescrição médica, o aborto era despenalizado, a principio apenas em situações médicas mas depois passou a ser encorajado, sempre que a mulher desejasse; o consumo de drogas, a homossexualidade, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo e perversões de todo o tipo foram consideradas legais, a poluição ambiental e a eutanásia eram lícitas, o que importava era o prazer, o bem-estar. Se alguém estava a sofrer, então mais valeria ser descontinuada pois o bem-estar estava acima do valor da vida. Nessa sociedade mesquinha, impregnada de corrupção, toda a tecnologia, toda a economia, toda a política, estavam ao serviço do bem-estar, contra a vida.
Começou-se então a constatar que a sociedade do bem-estar, ao colocar este valor acima do valor da vida, conduzia à aniquilação total do ser humano e da vida na Terra, pelo que as lutas e conflitos de valor se intensificaram. Os países ditos desenvolvidos, queriam levar a sociedade do bem-estar a todo o planeta mas, os restantes países resistiram, e têm resistido, em prol do valor da vida. Com o início do século XXI iniciou-se, nos países desenvolvidos, uma tímida recuperação do valor da vida; no entanto o conflito de valores entre o bem-estar e a vida tornou-se no conflito fundamental no seio de cada pessoa e dos grupos de pessoas do mundo. É essencial que no actual século XXI o valor da vida supere o valor do bem-estar, só assim será possível a continuidade da vida no planeta, e no mundo.
                                Doutor Patrício Leite, 30 de Novembro de 2014