A
paixão
é
uma exaltação carnal do amor; é um intenso e tempestuoso sentimento
de querer mais que tudo; é também a sede de um conflito interior, de
uma ambivalência afectiva entre a entrega total e a reserva da
intimidade própria e identidade pessoal. Se a inclinação
para a dádiva
total, sem reservas, é uma constante, também se exige da outra parte uma entrega
total. Os apaixonados, tudo dão ao objecto da sua paixão
e deste tudo querem receber. A paixão é um mundo de sentimentos e emoções
extremas, não tem meio termo; ora se sente com o objecto de amor, um bem
estar supremo, tudo possuir, tudo ser capaz; ora se sente tudo perder e para
isso basta um pequeno gesto desse objecto..., um olhar mal interpretado..., e
logo entra o sofrimento, por vezes o ciúme, um ciúme doentio. Os
apaixonados pensam obsessivamente o seu objecto amado, idealizam, exageram as
suas qualidades, tanto físicas como intelectuais. A paixão, se bem
conduzida, pode resultar num sentimento mais temperado, mais duradoiro; o amor.
Os amantes amam o outro mas amam também o amor que o outro lhes dá
ou tem para lhes dar. Na continuidade do amor, os amantes sentem, por vezes,
uma nostalgia do fogo apaixonado outrora vivenciado; a ambivalência
conflitual interior entre a entrega e a intimidade mantém-se, aliás
para sempre, mas agora mais atenuada, mais mitigada. Conforme a prevalência
de um amor altruísta, ao outro pelo que ele é, ou pelo contrário, um amor egoísta
ao amor que ele oferece, assim este sentimento de amor se pode manter ou então
diminuir e terminar numa relação de ódio mais ou menos intensa. O ódio
é
a outra face do amor; será abordado mais tarde. Doutor Patrício Leite, 22 de Abril de 2014