A inteligência artificial
constitui, actualmente, um vasto campo de pesquisa para o desenvolvimento
futuro da computação; esta área do saber e da investigação tem-se apoiado
fortemente na programação informática com base em sistemas lógicos. Se bem que
a lógica bivalente, com utilidade prática no domínio da contagem e outros
raciocínios matemáticos, seja a mais aplicada e desenvolvida, também é certo
que vários sistemas da lógica formal e abstracta, incluindo a multivalente, se
têm experimentado com algum efeito na prática computacional da inteligência
artificial. Cada sistema lógico tem a sua aplicabilidade máxima, e mais
fecunda, a determinados problemas humanos, pelo que, neste momento da história
do pensamento, em que tanto se fala da emoção e razão como condicionantes da
inteligência, a lógica monovalente toma agora o seu lugar; na realidade, é no
campo sentimental que a lógica monovalente se torna mais proveitosa. Assim, um
sentimento, per si, configura apenas
um único valor lógico, uma só valência lógica, e os princípios da lógica
bivalente como o terceiro excluído, a não contradição e a identidade, estão
fora do âmbito da lógica monovalente. A negação de um sentimento não dá sempre o
sentimento contrário mas tão-somente dá a negação desse sentimento; a negação
de uma negação também não dá o sentimento, ou proposição, original. Apesar de
em lógica monovalente existir apenas um valor lógico é possível, definir e
realizar, várias operações lógicas e até transformar, em algumas situações, mas
não todas, o sistema de lógica monovalente numa aproximação formal da lógica
bivalente. Se, por exemplo, considerarmos o único valor da lógica monovalente e
a operação lógica designada negação, então a negação desse valor é tão-somente
essa negação; também é certo que a negação da negação não retorna esse valor
primitivo ou original, porém a operação negação de toda a negação já retorna
esse valor lógico monovalente; aqui “toda a negação” poderia funcionar como
igualização a um segundo valor lógico, aproximando assim a lógica monovalente
da bivalente, porém esta igualização perde aplicabilidade prática,
designadamente no campo elementar das emoções, afectos e sentimentos. Qualquer
pessoa habituada a contemplar e avaliar emoções e sentimentos humanos verifica
que há, nestes, um dinamismo com padrões de repetição que por vezes se afastam
da pura racionalidade típica e baseada na lógica bivalente, por isso
empiricamente se afirma que os sentimentos e emoções são irracionais; a
aplicação do sistema monovalente permite clarificar e esclarecer a tradicional
irracionalidade atribuída aos sentimentos; o desenvolvimento da inteligência
artificial, com a aplicação da lógica monovalente pode, como que, “ensinar” o
computador a sentir como os humanos, a tomar decisões com base nos sentimentos
e a vivencia subjectiva dessa emocionalidade sentida nunca pode ser objectivada,
nunca pode ser transferida para outra pessoa, pelo que terá sempre que ser
desconsiderada pelo observador, tanto nos seres humanos como nas máquinas
computadorizadas.
Os sistemas lógicos têm uma ligação
muito próxima com a matemática discreta ou finita, designadamente com a análise
combinatória. Num sistema de lógica monovalente se considerarmos apenas uma
operação lógica como a negação, o resultado total de combinações possíveis é
dois; já num sistema de lógica bivalente, continuando a considerar a operação
negação, o resultado total de combinações possíveis é quatro, é este resultado
que se verifica nas designadas tabelas de verdade, tanto para a operação lógica
designada negação como para outras como a conjunção, disjunção etc.; se
considerarmos agora um sistema de lógica trivalente e apenas uma operação
lógica, como a negação, então o resultado final total de combinações será oito,
portanto, o que se verifica é uma relação directa entre o número de valores
lógicos considerados e o número total de combinações que é igual ao somatório
da respectiva linha do triângulo de Pascal que também corresponde, tendo em
atenção a ordem dos elementos, aos respectivos arranjos com repetição.
Os
paradigmas de programação informática com base na lógica, para se aproximarem da
resolução de problemas, típicos dos seres humano, necessitam de considerar, não
apenas a lógica bivalente mas sim, todos os sistemas lógicos e a respectiva
aplicabilidade a cada tipo de problema; só assim se poderá desenvolver uma inteligência
artificial próxima do ser humano.Doutor Patrício Leite, 3 de Maio de 2018