A
existencialidade não é homogénea; se fosse homogénea,
se fosse sempre igual a si própria; nada se distinguiria, tudo seria
igual a si próprio, não existiria diferença,
não existiria diversidade. A heterogeneidade existencial,
promove a descontinuidade mas, resulta de uma polaridade dualista; de tal modo
que dois pólos produzem uma dimensão; duas dimensões
produzem um plano e dois planos produzem um espaço. Em qualquer espaço
volumétrico há sempre uma forma e um fundo para as
situações visuais que nas situações auditivas se designa por sinal e
ruído, mas o raciocínio é análogo para com os outros órgãos
da sensação, da percepção e da cognição.
Quando a totalidade existencial se move, quando tanto a forma como o fundo se
movem, então é nesta dualidade de movimentos que se
encontra a deformabilidade, a reologia do espaço finito, mas o tempo refere-se ao
movimento de apenas uma das partes desta dualidade; da forma ou do fundo, nunca
das duas. A gnoseologia do tempo pressupõe um raciocínio
sequencial, uma apreensão sequencial do movimento; é
por isso que no tempo existe sempre um antecedente e um consequente, um antes e
um depois. A sequencialidade resulta do movimento de translação
mas no tempo há também uma cadência rítmica
que faz pensar no movimento de rotação e de vibração
conferindo também, ao movimento do tempo, propriedades
ondulatórias. O movimento do tempo, inserido na deformabilidade do
espaço, configura um turbilhão em vórtice. O agrupamento de todos os tipos
ou categorias de movimentos numa só unidade faz-se no vórtice
e, por corolário, todos os movimentos existentes são
essencialmente turbilhonares, ou seja, em vórtice; o ser humano é
que apenas pode conseguir observar o predomínio de uma ou outra das suas características:
a rotação a translação ou a vibração.
Reflectir sobre a história do pensamento humano conduz à
conclusão que o tempo é, como tantos outros conceitos
humanos, uma grande ilusão, mas outro tanto se aplica ao espaço
ou distância, à massa e a todas as outras grandezas
que fundamentam a nossa realidade física. Se a progressão
da reflexão conduz à interconvertibilidade das grandezas físicas
fundamentais numa só grandeza universal, também
não é possível abandonar a dualidade do ser
pensante com o objecto pensado; e quando a consciência se tenta apreender a si própria,
tornar-se simultaneamente sujeito e objecto de si própria,
apenas encontra a dureza inabalável da grandeza de um paradoxal
absurdo
Doutor Patrício
Leite, 14 de Agosto de 2016