Há muitos anos,
quando li a filosofia de Husserl, habituei-me a uma filosofia
reducionista assente no método fenomenológico. O método
da redução eidética, da redução à
essência, ao eidos, à condição sine qua
non. Por outro lado, quando li a filosofia existencialista francêsa, aprendi que a consciência apreende o mundo mas
não se auto apreende. No entanto, num pensamento
patente de que a essência da consciência é a auto
apreensão, de sí própria, não a apreensão
do mundo mas a auto apreensão; isso configura um raciocínio
dialético assente na dualidade antagónica entre o
existencialismo e um novo pensamento. Este pensamento por oposição
ao existencialismo francês, tem a mesma validade: a consciência
é a sua auto apreensão, não a apreensão
do mundo exterior, mas a própria apreensão. Não
uma auto apreensão moral mas, tão somente, a auto
apreensão. O mundo exterior pode ter uma existência
independente do ser que o sente e pensa mas, pode também,
apenas existir no seio do ser que o sente e pensa, e a dependência
pode ser tão forte que se o ser pensante deixar de existir, o
mundo exterior deixa também de o ser. O racionalismo
cartesiano extremo já antes tinha conduzido ao solipsismo no
qual, só existe o ser pensante e o objecto desse pensamento é
parte integrante do ser que o pensa. Também a dialética
da acção e do conhecimento conduz a uma
interdependência reciproca entre o conhecimento ou pensamento e
as acções que o produzem mas a filosofia
existencialista moderna, a filosofia do ser-no-mundo, a filosofia do
dasein, tem encarado o problema como um problema de consciência.
A consciência do ser que, sabe-que-sabe. A próxima
filosofia será, provávelmente, a filosofia da
interrogação; a filosofia que questiona o porquê
de o ser humano se auto interrogar, o porquê de existir uma
pergunta, a pergunta: porquê?
Doutor Patrício
Leite, 27 de Fevereiro de 2015