AS DIMENSÕES DO PODER POLÍTICO

O poder político dimensiona-se em dois eixos: o eixo horizontal define um poder competitivo com base no exercicio da força, dos bens económicos e outros, das armas e todos os instrumentos de coerção; o exio verical define um poder cooperativo ou colaborativo com base nas pessoas, nos grupos e organizações sociais. Se é certo que a competição e a cooperação são os eixos ou dimensões fundamentais da organização do poder político; é também certo que a instrumentalização das pessoas, como elementos de coacção, as transporta para o eixo ou dimensão horizontal do poder. A visualização do eixo horizontal do poder coloca na extrema esquerda, um sistema em que todos os bens económicos, todos os bens de produção e de capital, todas as armas e instrumentos de coerção pertenceriam ao estado, ao sector público, e porque não existiria sector privado seriam de propriedade comum pelo que in extremis uma pessoa não poderia ter como seu, nem os próprios olhos da face, o que torna isso numa fantasia irrealizável; por outro lado na extrema direita deste eixo horizontal, todos os bens, económicos de coerção e outros, seriam privados e pertenceriam a pessoas que individualmente deles se apropriariam pelo que in extremis não poderia sequer existir linguagem e comunicação verbal já que cada pessoa teria a sua própria, que não tornava comum, o que transforma isso numa manifesta fantasia irrealizável. Assim, no plano do eixo horizontal, para a realização do poder político, há um posicionamento das forças e sistemas, mais à esquerda ou mais à direita, simultâneamente com bens públicos e privados, nunca nos extremos. A visualização do eixo vertical do poder coloca no extremo inferior um sistema em que todas as relações, todas as interacções pessoais e socias são exercidas por um representante, isto é, num sistema de democracia representativa extrema nenhuma relação social pode ser directamente exercida, terá sempre de ser realizada por um representante, in extremis a relação de um pai com um filho, ou de uma pessoa consigo própria, teria de ser efectuada por outra pessoa, sua representante, o que torna isso numa fantasia irrealizável; por outro lado no extremo superior do eixo vertical, todas as relações e interacções pessoais e sociais são exercidas directamente, sem representantes nem representados, o que no momento actual do desenvolvimento tecnológico torna isso numa fantasia irrealizável. Assim, no plano do eixo vertical, para a realização do poder político, há um posicionamento das forças e sistemas, mais acima ou mais abaixo, simultâneamente com o exercício representativo e directo da democracia; nem que seja apenas para eleger directamente um presidente de república ou um partido político, cujos dirigentes vão depois representar ou decidir em nome das pessoas que os elegeram, mas os extremos nunca são alcaçados. Com o encontro destes eixos dimensionais, surgem quatro secções ou quadrantes nos quais todas as forças ou sistemas políticos, que existiram ao longo da história ou venham a existir no futuro, se localizam:
A - No quadrante inferior esquerdo localizam-se os sistemas políticos socialistas ou comunistas de partido único ou mais de um partido.
B - No quadrante superior esquerdo localizam-se os sistemas de propriedade mais ou menos colectiva dos meios de produção com regimes de autogestão e cooperativismo cujas decisões, também colectivas, poderão envolver o voto democrático em propostas ou um consenso decisional dos participantes; sistemas políticos deste quadrante ocorreram parcialmente na antiga Jugoslávia e País Vasco; muitos anarquistas de esquerda posicionam-se neste quadrante para o desenvolvimento dos seus ideais. 
C - No quadrante inferior direito localizam-se os sistemas capitalistas com maior ou menor apropriação privada dos meios de produção e multipartidarismo, corporativismo ou outros 
D - Finalmente no quadrante superior direito predomina a apropriação privada dos meios de produção e o exercício da política faz-se por meio do voto directo e secreto em propostas de decisão sobre assuntos relevantes com recurso a referendos, plebiscitos, consultas populares, revogação de mandatos e outros instrumentos decisionais próprios da democracia directa; neste quadrante localizam-se sistemas políticos como a Suíça e alguns estados dos EUA.
O - No ponto de encontro entre estes dois eixos dimensionais surge um sistema político em que a democracia se liberta tornando possível a coexistência de uma democracia directa com uma representativa e simultaneamente o sector público e privado da economia e dos meios de coerção; neste sistema é possível simultaneamente algumas pessoas, se desejarem, serem representadas e outras exercerem o voto directo em propostas próprias de uma democracia directa. Este estado de plena liberdade democrática só é possivel após a democracia se libertar do jogo dos representantes. Nesta situação teriamos uma democracia livre ou uma livre democracia.                                                                                       Doutor Patrício Leite, 27 de Maio de 2014