Porquê?

A história das ideias tem revelado que em cada época se torna dominante uma corrente do pensamento. Os primeiros pensadores procuravam o principio de todas as coisas, o arché da physis. Este principio foi vertido num deus único que dominou o pensamento por muitos séculos tentando-se, na idade média, conciliar a fé nesse deus com a razão: Se tudo tem uma razão de ser e há um principio, que é deus, então quem criou esse deus? Qual a sua origem? Qual o principio do “principio”? O pensamento moderno foi amadurecendo e no século XX, triunfou a negação de um principio universal, com a ideia de que o ser pensante, a consciência, quando se aprecebe de si já está no mundo. Ninguém pede para nascer, nem sabe que vai nascer. Quando o ser consciente olha para si e se contempla; já está no mundo. Nesse século, triunfou também a negação da razão, ou seja, nem tudo tem uma razão de ser; não há uma razão para o ser, a existência é um absurdo. Porquê o ser e não, o nada? O pensamento tem avançado de pergunta em pergunta, de resposta em resposta. Nesta dualidade, a resposta tem assumido no passado uma preponderância valorativa; no entanto o século XXI será a época da pergunta, da interrogação e da procura; essa busca globalizante e interminável. A filosofia da pergunta irá colocar a pergunta como objecto do pensamento. A interrogação, a dúvida, o sair de sí para a sí voltar, num ciclo de procura insaciável. Porquê o todo e não apenas as partes? Porquê a unidade e não apenas a diversidade? Porquê a continuidade e não apenas a fragmentação? Porquê a pergunta? Sim, a pergunta: Porquê? Porquê a pergunta, Porquê?                                                                                                                        Doutor Patrício Leite, 28 de Dezembro de 2013